A IBM era um ícone que foi ao inferno – até se reinventar. A Microsoft já não é mais um ícone – mas quer dar a volta por cima antes de cair Por Guilherme Felitti Empresa nenhuma de tecnologia usufruía de maior prestígio na década de 70 que a IBM. Seus jovens e bem-vestidos executivos, ocupados em programar grandes computadores para grandes companhias, eram a imagem do futuro. Em 1981, o lançamento do IBM 5150 PC deu início à era dos computadores pessoais e foi recebido como um passaporte para anos de inovação e lucros. Uma década depois, a companhia sangrava, com prejuízos anuais que chegaram a US$ 8 bilhões. Escapar da obsolescência custou caro. Na célebre reestruturação comandada por Lou Gerstner, seu principal executivo a partir de 1993, a IBM desistiu da área de PCs, demitiu 35 mil funcionários e se concentrou em duas áreas: softwares e serviços. A nova orientação, levada ao extremo por Sam Palmisano, sucessor de Gerstner, recolocou a “big blue” perto do topo. Ela é hoje a segunda maior empresa de tecnologia do mundo – atrás apenas da Apple –, com receita anual na casa dos US$ 100 bilhões. Não é mais, contudo, um ícone da inovação, nem a companhia sexy dos sonhos dos melhores universitários. Uma das maiores responsáveis pelo tombo da IBM foi a companhia comandada pelo jovem Bil Gates. Empresa nenhuma de tecnologia usufruía de maior prestígio na década de 90 que a Microsoft... Windows, Office, navegadores, softwares de produtividade – durante mais de dez anos a companhia concebida por Bill Gates parecia imbatível. Será que a história vai se repetir? A vanguarda da inovação está hoje na computação em nuvem, dominada pelo Google, e na mobilidade, reino da Apple – áreas nas quais a Microsoft apostou pouco e mal. Até agora. Duas transações bilionárias executadas no curto intervalo de três meses são, claramente, um movimento decidido da companhia para voltar a ser relevante. Primeiro, em fevereiro, uma aliança com a Nokia, avaliada em US$ 1 bilhão. Depois, em maio, um investimento de US$ 8,5 bilhões para comprar o Skype. A sombra que paira_Diferentemente da IBM dos anos 90, a Microsoft passa longe do prejuízo. Desfruta até hoje da aposta de Gates em uma arquitetura fechada de negócios, graças à qual colhe sozinha os lucros gerados pelos softwares que desenvolve. Outro trunfo da Microsoft é sua eficiência operacional. No ano passado, a IBM faturou mais que ela. Mas lucrou menos. Dinheiro em caixa, porém, não é tudo. A Microsoft já não é identificada como vanguarda tecnológica há muito tempo. E a velocidade com que o mercado ruma para a internet e as plataformas móveis gera discussões entre analistas e investidores: por quanto tempo a Microsoft será capaz de manter seus bons resultados?
No próximo dia 27, Steve Ballmer completa três anos como principal estrategista e figura pública da Microsoft. Se o comportamento das ações da companhia serve como métrica para medir seu desempenho desde que Bill Gates se aposentou, o balanço é desanimador. Até o dia 25 de maio, os papéis acumulavam queda de 14,3%. No mesmo período, o índice com as principais ações da bolsa eletrônica Nasdaq registrava alta de 14,7%. Como consequência, a Apple e a própria IBM a ultrapassaram em valor de mercado. Sem resultados animadores nem Gates, o desempenho de Ballmer vem sendo contestado. Paira sobre ele o espectro de John Akers. O antecessor de Lou Gerstner assumiu a IBM em 1985 com as ações da empresa cotadas a US$ 33. Ao passar o bastão, oito anos depois, o valor havia caído para US$ 11.
Isso explica as grandes apostas de Ballmer. Ele quer levar a Microsoft à reinvenção, mas sem uma queda como a da IBM. Maior aquisição nos quase 40 anos de história da Microsoft, o Skype, serviço mais popular do mundo em transmissão de voz e imagem pela internet, é sua maior esperança. A estratégia é transformar videogames e smartphones em fontes de receita que compensem a inevitável perda de rentabilidade de Windows, Office e companhia. O Skype deverá ser integrado à rede de games online Xbox Live, ao buscador Bing, ao comunicador Windows Live Messenger e, principalmente, ao sistema móvel Windows Phone 7. Aparelhos da Nokia, ainda a maior fabricante de celulares do mundo em volume, chegarão ao mercado com atalhos para chamadas por Skype – não exatamente uma boa notícia para as companhias telefônicas.
A Microsoft pagou caro, mas não comprou só a tecnologia. O Skype está no centro de uma comunidade com 600 milhões de contas. E é uma marca com ótima reputação entre consumidores – ativo intangível em forte demanda pela Microsoft depois dos fiascos de projetos como o Windows Vista e a plataforma móvel Kin.
A Microsoft-Nokia já é apontada pela consultoria IDC como provável vice-líder no mercado de smartphones em quatro anos – atrás apenas dos fabricantes que adotarem o sistema operacional Android, do Google. Se o Skype for bem assimilado, a gigante de Seattle terá um portfólio de produtos mais abrangente que qualquer empresa de tecnologia. Não há nenhuma certeza nesse caminho. Mas há uma boa chance de dar certo. “Talvez a Microsoft esteja mais perto hoje de virar o monopólio que todo mundo achou que ela seria nos anos 90”, afirma Sílvio Meira, cientista-chefe do Centro de Estudos e Sistemas Avançados de Recife.
Excelente matéria da Época
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